Ambiente Natural e Biodiversidade 

   Almada, pela sua situação biogeográfica e proximidade a áreas tão importantes como o Estuário do Tejo e o Oceano Atlântico, detém muitas zonas de elevado interesse ambiental, registando, na sua globalidade, uma biodiversidade muito importante.

    Vários elementos concorrem para a existência de uma grande variedade de habitats, potenciadora da diversidade biológica de Almada:

  • Frente Atlântica de 13 km de extensão, com vegetação dunar e fauna marinha de relevante interesse ecológico;
  •  Frente Ribeirinha de grande produtividade, com função de viveiro natural de muitas espécies com interesse económico;
  • Reserva Botânica da Mata dos Medos, por sua vez integrada na Paisagem Protegida da Arriba Fóssil da Costa de Caparica, a qual, para além da importante vegetação mediterrânica, regista algumas espécies de plantas endémicas de Portugal e apresenta valores únicos no que respeita à geologia e fisiografia da própria arriba.

   A biodiversidade deve ser entendida como um conceito de grande abrangência que ultrapassa a grande variedade de funções ecológicas desempenhadas pelos organismos nos ecossistemas, devendo ser considerada em três planos fundamentais:

  • diversidade específica (número de espécies em presença) 
  • diversidade de habitats (diferentes habitats possibilitam a existência de comunidades diferentes)
  • diversidade genética  (que compreende a variabilidade específica e a variabilidade de caracteres hereditários dentro de uma população).

   Todos estes constituintes da biodiversidade contribuem, para além das funções ecológicas referidas, para a capacidade de resposta dos ecossistemas a um aumento da tensão ambiental, seja esta de origem natural ou de natureza antrópica, dependendo esta capacidade, em grande escala, do número, variedade e características das espécies que o constituem.

  No âmbito da dinamização do processo da Agenda 21 em Almada, têm vindo a ser realizados múltiplos trabalhos de inventariação da fauna e flora do concelho, como forma de diagnóstico da sua qualidade ambiental, bem como de monitorização da tendência actual deste valor patrimonial.

   Num momento em que a perda de biodiversidade é um fenómeno global com profundas implicações, não só de natureza ecológica, mas também no plano do desenvolvimento económico e social, a Câmara Municipal de Almada procurou conhecê-los e divulgá-los, procurando uma maior consciencialização de todos para uma inversão desta tendência, promovendo uma utilização mais sustentável dos recursos biológicos.

 Paisagem e Habitats 


A localização geográfica do Concelho e as suas características geomorfológicas, determinam a existência de diferentes factores climáticos e ambientais que vão actuar sobre as várias áreas do território, definindo assim uma grande variedade de paisagens e habitats ao longo do Concelho. 
Definem-se assim como principais unidades de paisagem do Concelho de Almada. 

  • A Frente Ribeirinha Norte, que se estende sobre as arribas ribeirinhas entre a Trafaria e Cacilhas. Por se encontrar virada a Norte e debruçada sobre o troço final do estuário do Tejo, esta região de vales encaixados e vertentes muito declivosas é mais fresca e húmida, desenvolvendo-se aqui, de forma natural, bosques de carvalho cerquinho e matagais característicos do litoral centro de Portugal. Numa paisagem essencialmente rural, o mosaico de vegetação que se forma entre o uso agrícola e as áreas de vegetação natural ou semi-natural favorece a diversificação da biodiversidade, tanto de espécies de flora como de fauna, que aqui encontram refúgio e alimentação.
  • A Frente Litoral Atlântica, que acompanha toda a costa oceânica desde a Cova do Vapor à Fonte da Telha. A frente litoral é constituída por uma série de formações dunares, que se desenvolvem entre as praias e a Arriba Fóssil, a qual limita e enquadra a Este esta planície costeira. Trata-se de um ambiente muito inóspito, onde as temperaturas elevadas, a escassez de água no solo, os ventos fortes e salgados, a permeabilidade elevada e a extrema mobilidade das areias, são alguns dos factores que limitam e impedem o crescimento de muitas plantas. Apenas as mais resistentes e adaptadas a estas condições conseguem sobreviver. Por esta razão, são aqui encontradas comunidades dunares de elevado valor, assim como plantas e animais com adaptações surpreendentes.
  • O Interior do Concelho, que abarca aproximadamente a área das freguesias da Charneca da Caparica, Sobreda, Feijó e Caparica. Esta área apresenta características mais continentais, caracterizando-se por um relevo suave, por estar mais protegida dos ventos dominantes de Noroeste e por apresentar solos não calcários formados a partir de arenitos, de textura grosseira e boa drenagem. Nesta região, desenvolve-se assim uma vegetação de fortes características mediterrânicas, que tem como etapa madura os sobreirais. Ao longo das margens dos cursos de água desenvolvem-se comunidades ribeirinhas.

   As diferentes unidades acima caracterizadas apresentam uma diversidade de habitats muito relevante em termos nacionais, que se desenvolvem de acordo com as diferentes condições edafo-climáticas e biológicas, o nível de perturbação e o grau de desenvolvimento e complexidade das comunidades. No Concelho de Almada podem assim ser encontrados diversos bosques, matagais e matos, charnecas e prados, comunidades dunares e ribeirinhas, que, no conjunto, albergam uma importante biodiversidade.

 Flora

A flora de um local é composta pelo conjunto das espécies vegetais que ocorrem naturalmente nessa região.  

 
No Concelho de Almada coexistiem espécies adaptadas ao calor extremo e desidratação, com plantas mais sensíveis e que precisam de ambientes mais frescos e húmidos. Dependendo da situação geográfica, clima e solos, a distribuição e conjugação das diferentes espécies em diversas comunidades vão definir as várias paisagens e habitats do Município. 

Em Almada podem ser observadas plantas com interessantes adaptações ecológicas, que lhes permitiram colonizar e sobreviver nos diversos habitats:

- O cordeiro-da-praia, por exemplo, está totalmente coberto por uma espessa camada de pêlos brancos que aumenta a reflexão da luz, permitindo-lhe assim sobreviver em locais tão solarengos como as dunas. 

- O tomilho-carnudo apresenta folhas verde-escuro, brilhantes, cobertas por uma cera que reflecte os raios solares e impermeabiliza a superfície foliar.  

- A estevinha ou o rosmaninho, preferem deixar cair as suas folhas, total ou parcialmente, durante o verão, quando as temperaturas são demasiado altas. 

- A granza-das-praias tem forma de almofada (pulviniforme) para resistir aos ventos. 

- O estorno estende as suas longas raízes para captar água em profundidade, enquanto que o alfinete-das-areias tem sistemas radiculares superficiais, de forma a recolher de imediato a água que chega ao solo. 

- A erva-pinheira tem caules e folhas suculentas com reservas de água e o carrasco apresenta folhas de margens espinhosas para se proteger dos animais.


Existem, neste território, algumas espécies exóticas, entre as quais o chorão e as diversas espécies de acácias são as mais conhecidas. Na sua maioria introduzidas intencionalmente, podem tornar-se invasoras quando as condições ambientais as favorecem, conduzindo a um progressivo aumento da sua área de distribuição em detrimento das espécies nativas e da biodiversidade local.



 

 Fauna 

 


Fauna 
é o termo colectivo para a vida animal de uma determinada região ou período de tempo. A fauna do Concelho de Almada é muito diversa, reflectindo, em boa medida, a sua situação biogeográfica de charneira entre climas mais quentes (Mediterrâneo e Atlântico subtropical) e climas de regiões relativamente frias (Atlântico Norte).

A biodiversidade do concelho beneficia ainda de uma grande multiplicidade de 
habitats, entre os quais se contam ecossistemas marinhos, cordões dunares litorais, bosques e matagais. Foram assim desenvolvidos os seguintes grupos:

  • Mamíferos 
  • Aves 
  • Anfíbios e Répteis 
  • Peixes
  • Invertebrados Bentónicos 

Para além de, sempre que possível, se apresentar as espécies mais abundantes ou significativas, procurou-se ainda destacar o seu papel ecológico na dinâmica dos ecossistemas existentes, indicando também o seu especial interesse conservativo ou valor comercial quando se tratam de um recurso explorado, como no caso da ictiofauna.

 

Mamíferos  

 

Os mamíferos  (do latim científico Mammalia) constituem uma classe de animais vertebrados caracterizados pela presença de pêlos ou cabelos e pela presença de glândulas mamárias nas fêmeas, que produzem leite para alimentação das crias.
       Estando melhor representado, em Almada, na Paisagem Protegida da Arriba Fóssil da Costa de Caparica (PPAFCC), a qual, pela sua extensão e multiplicidade de habitats, apresenta boas condições de abrigo e alimentação para o seu estabelecimento.
     Nesta área, estão relativamente bem representados cinco grupos fundamentais de mamíferos:

·   Quirópteros - Corresponde ao grupo dos morcegos, dos quais estão representadas na PPAFCC seis espécies diferentes, destacando-se nomeadamente o morcego-arborícola-pequeno  e o morcego-anão. Por terem uma dieta exclusivamente insectívora, os morcegos chegam a comer mais de metade do seu peso em insectos diariamente, constituindo assim não só um elo importante no fluxo de energia dos ecossistemas, como uma arma selectiva e eficaz no controle de pragas agrícolas e vectores de doenças, factos de relevância económica frequentemente ignorados.

·    Insectívoros -Incluem essencialmente espécies bastante comuns como o ouriço - cacheiro e a toupeira. 

·    Lagomorfos -Incluem o coelho-bravo e a lebre.  

·    Roedores - Compreendem espécies bastante comuns, como orato-cego e o rato-do-campo. 

·    Carnívoros - Incluem a raposa, o toirão, gineta e o gato-bravo. Este grupo de animais é o mais exigente do ponto de vista ambiental, já que são territoriais e carecem de áreas de maiores dimensões para o seu estabelecimento. É também um grupo ecologicamente muito importante, uma vez que contribui, de forma decisiva, para a saúde populacional das presas, já que se alimentam selectivamente dos animais mais fracos (doentes e parasitados).

 

Aves 

 

A monitorização das populações de aves tem vindo a ser utilizada como indicador da qualidade ambiental e como referencial na detecção de determinadas alterações sofridas pelo meio.
    Foram inventariadas, na 
Paisagem Protegida da Arriba Fóssil da Costa de Caparica,  105 espécies de aves pertencentes a 51 famílias, destas apenas duas têm o estatuto de ameaçada em Portugal continental segundo o “Livro Vermelho de Vertebrados de Portugal”: a rola - comum e o falcão -peregrino.

 


A zona da Arriba foi classificada como corredor ecológico pelo Plano Regional de Ordenamento do Território. A sua grande importância prende-se com o facto de esta zona constituir uma charneira ecológica entre o estuário do Tejo e as Matas de Sesimbra, Arrábida e Cabo Espichel, permitindo a mobilidade e dispersão das comunidades bióticas.

                                                           

 

Anfíbios e Répteis  

 

    O trabalho de inventariação da herpetofauna (anfíbios e répteis)  existente na Paisagem Protegida da Arriba Fóssil da Costa de Caparica (PPAFCC) permitiu conhecer a relevância desta área protegida para este importante grupo de organismos.

   Estes dois grupos de animais são potencialmente ameaçados devido à sua fraca mobilidade, o que os torna particularmente vulneráveis ao fraccionamento dos ecossistemas e lhes confere uma consequente dificuldade de colonização de novos locais no caso de destruição ou alteração dos seus habitats naturais.
Os incêndios e os atropelamentos viários são assim responsáveis por uma importante mortalidade destes organismos. A acção de substâncias tóxicas (por ex., insecticidas, herbicidas) e a poluição ambiental pode influenciar a fertilidade e aumentar a mortalidade principalmente dos juvenis, pela facilidade de dispersão no meio aquático destes compostos. 

    A herpetofauna tem-se afirmado como um excelente indicador biológico de desenvolvimento e do estado de conservação dos ecossistemas, já que apresenta uma capacidade de adaptação a diferentes biótopos, tendo um elevado grau de sensibilidade a perturbações do seu habitat.

 Foram inventariadas, na Mata dos Medos, 11 espécies de anfíbios e 16 de répteis, estando todas elas sob protecção.

 

Peixes 

 A coexistência de uma frente atlântica de cerca de 13 km e de uma extensa frente ribeirinha do estuário do Tejo, que constitui uma área natural de viveiro, potencia a ocorrência de uma grande variedade de habitats distintos e complementares, conduzindo naturalmente a uma elevada biodiversidade, que se reflecte no elenco de peixes do Concelho.

 Nestas zonas, onde a produtividade biológica é muito elevada, os juvenis podem beneficiar duma grande disponibilidade de alimento, da existência de condições favoráveis ao crescimento e dum reduzido número de predadores.
       Para várias espécies diferentes, juvenis e adultos ocorrem em locais distintos. Há uma tendência generalizada para os indivíduos adultos se distribuírem por zonas situadas a maiores profundidades e distância da costa, onde ocorre a reprodução, após o que se verifica a migração de ovos e larvas em direcção às zonas costeiras de menor profundidade.
      Na frente atlântica do Concelho de Almada, as espécies dominantes são a cavala, o carapau, o sargo-do-Senegal e a sardinha.


Invertebrados Bentónicos 

Os  invertebrados bentónicos são animais subaquáticos que vivem sobre ou enterrados no substrato do fundo do mar. Estes organismos encontram-se nos níveis inferiores das cadeias alimentares, sendo por isso extremamente importantes para os ecossistemas. Englobam vários grupos distintos, como os:

- Cnidários (anémonas)

- Anelídeos (minhocas)

- Moluscos (bivalves e búzios) 

- Artrópodes (isópodes, anfípodes, camarões e caranguejos), que constituem alimento para uma importante diversidade de peixes e aves.


Os invertebrados em particular, respondem de forma directa e bastante rápida a alterações no meio aquático, mesmo que pequenas, constituindo, por isso, excelentes indicadores de qualidade do meio aquático.



  Áreas Naturais Importantes  

    A particular situação biogeográfica do Município de Almada, na confluência entre o ambiente estuarino do rio Tejo e a meio marinho atlântico, concorre para a existência de um património natural significativo, o qual se distribui maioritariamente pelas orlas do concelho.

Existem em Almada algumas áreas naturais importantes cujo valor patrimonial, quer à escala da Área Metropolitana de Lisboa quer à escala nacional, é inquestionável. Por esta razão, a Câmara Municipal de Almada tem vindo a enveredar esforços para assegurar a sua protecção, de modo a salvaguardar este património natural para as gerações futuras, através de uma gestão adequada.
       A 
Paisagem Protegida da Arriba Fóssil da Costa de Caparica, constitui, desde há muito, uma área protegida, que congrega simultaneamente valores botânicos, faunísticos e geológicos, além da evidente riqueza paisagística que esteve na origem da sua classificação.
       Outras áreas, como o 
Sistema Dunar associado à Frente Litoral Atlântica ou a generalidade da Frente Ribeirinha Norte, merecem destaque, essencialmente, pelo seu valor ecológico e paisagístico, bem como pela diversidade das suas comunidades biológicas, nomeadamente botânicas e faunísticas.
       Existem ainda alguns sítios específicos que, pese a sua menor expressão geográfica, devem ser destacados pelo seu 
interesse geológico, uma vez que constituem locais particularmente reveladores da riqueza do substrato geológico do concelho.